domingo, novembro 27, 2005

15. Garatuja

A calmaria durava já duas semanas, a ração de naufrágio escaceava e já quase não havia água doce para acompanhá-la.
Desde que o mastro do velho Rajada se quebrou, fez inúmeras tentativas de repará-lo, sem sucesso.
Nunca navegara em solitário.
Sempre o desejara, porém, e falava disso em todas as conversas, sempre mais animadamente depois do terceiro ou quarto copos. Aliás, falava animadamente após tantos copos, sobre tantos assuntos e com tanta convicção que, às vezes, acreditava mesmo que pudesse estar certo.

Mas agora, além do paralelo 10, nada lhe trazia alguma convicção.

A última história que ouvira dum navegante solitário fora do patético inglês que, em uma regata, simulou por rádio as várias pernas que teria percorrido para, não se sabe se num acesso de loucura ou desespero, finalmente, adoecer e afogar-se a bem poucas milhas do ponto de partida !

Seu mastro da fortuna, armado com a retranca e um corte da genoa, de nada lhe valeria se a calmaria não tivesse fim. Ainda assim, apegava-se a essa pequena esperança. Que viesse uma tormenta, se ataria ao convés, encharcado de água doce, sem importar qual rumo tomasse, desde que para longe ou para perto.

Observou de novo as linhas que lançara das amuras, pensando em algum pescado. Lembrou das fedorentas cigarrilhas que o acompanhavam a todo lugar. Quantos dias sem tabaco ? Quantas semanas sem cerveja ou o que mais ?

E quantos mêses sem um embate real, proa a proa, sussurrando para que o oponente não lhe percebece a tática, aos gritos para que a manobra fosse executada no tempo justo, a cambada precisa, a genoa se enchendo ao som da catraca, apenas para cambar novamente, e outra vez, marcando ou fugindo da marca.

Mantinha ainda algumas rotinas. Ao amanhecer, um bloco de ração, mastigado dolorosamente.

Hoje, distoceu lentamente os cabos guardados no paiol, ressecados.
Verificou as catracas, imaginando se seriam necessárias novamente. Puxou, uma a uma, as linhas de pesca. Usava ração como isca, mas a ração se dissolvia rapidamente, devendo ser recolocada nas iscas. Mas dali até o horizonte, nenhum peixe.

Depois de todo esse tempo, a disciplina se esvaira. O caderno de notas e o diário de navegação tinham ainda algumas anotações, mas deixara de marcar sua posição e os horários. Nas páginas mais recentes, garatujas se espel;havam pelas linhas, entre poucas anotações que já deixavam de fazer sentido.

Dok realmente tentou tomar seu tempo a imaginar histórias, mas as garatujas venciam.
Pensou apenas que, se voltasse a aportar, daria um sobrenome ao Rajada: garatuja.

complos, tramas, tramoias, conspirações, fofocas

Edu Soveral escreveu sobre o site inglês sobre o atentado ao Pentágono, em 11 de setembro.

> Fala Charles:
> Aqui é o Soveral.
> Lembra daquele papo no restaurante sobre o atentado ao Pentágono?
> Dê uma olhada nisso. Dê sua opinião...
> Soveral


Olá Soveral.
Tenho um concunhado Portenho que é especialista em coletar e enviar complôs, conspirações, tramas e fofocas...
Essa eu já conhecia.
Há também um que afirma que haviam cargas de dinamite postas no WTC, sem as quais o edifício não viria abaixo.
Uma tia avó e um cara em Minas Gerais acham que o homem não foi à Lua.


Depois, busque na Amazon o livro que o cara vai escrever, se é que ainda não o fez.
Ajude-o a faturar algum com a credulidade alheia.
Ou com a descrença alheia ;->

Veja, parte da minha familia está na Europa, uma pequena parte nos EEUU.
Não acredito em teorias da conspiração.
Acredito que o homem foi à Lua.
Não gosto do Bush e caterva, mas conheço bem, bem poucos lugares onde se possa manifestar opiniões divergentes - inlcusive sobre pressupostos complôs.

Acredito no Kennedy, não importa se foi morto pela Máfia, pela CIA ou pelos dois, concordo com o bloqueio dos mísseis, acho no entanto que já chega, já foi longe demais, gosto do Buena Vista Social Club e do filme do Win Wenders, me cansa o Fidel, mais ainda o Maradona e o Chavez, ainda prefiro o Chavo e o Chapolim Colorado.

Gosto de pensar que, mesmo entre nossos políticos, haja uma parcela considerável de pessoas razoavelmente bem intencionadas e que, se incorrem em alguns ilícitos, não sejam sempre tão graves.
Gosto de pensar que um cidadão como o Maluf, que tanto afrontou a sociedade, não precise ser 'rigorozamente bem tratado', podendo ser exposto, sim, à mídia, como foram expostos professores em greve, por exemplo.
E apesar disso, acho que se deve presumí-lo inocente até prova em contrário.

Simpatizei com o PT nos primeiros minutos, para logo em seguida me arrepender e jamais ter votado com eles ou neles.
Apesar disso, admiro o Cardozo e o Suplicy ( o pai, não o Supla ).

Simpatizei com a esquerda nos primeiros minutos, para em seguida me afastar do que me pareceu e me parece um balaio de gatos.

Simpatizei com a direita vez ou outra, ainda mais quando estão distantes ou num parnasiano editorial de jornal.

Gosto do Millor, ainda que diga bobagens sobre o Karl Roiter e o Tom Jobin.

Adoro o Groucho Marx, mas afinal tornei-me sócio dum clube.
Não freqüento eventos sociais no clube.
Saio da piscina para a cerveja, da cerveja para a piscina. tenho bons papos com os garçons.
Aliás, é para isso que servem os clubes: bons garçons.

Não freqüento eventos sociais.
Não julgo os encontros com amigos e amigas como eventos sociais.
Não encontro amigos e amigas em eventos sociais, mesmo porque não os freqüento mas, se os freqüentasse, ninguém que viesse a encontrar consideraria meu amigo.
Se encontrar amigos e amigas num evento social, torna-se claro que não se trata de um evento social, mas dum encontro entre amigos ;->

Bem, amigo, apenas para dizer que todos temos algumas implicâncias com a vida e com o mundo.
Talvez não sejam as mesmas, mas é importante reconhecer que as temos e algumas são graves.

Foi ou não foi um missil o que atingiu o Pentágono ? Talvez o Kelvin Costner faça um filme sobre isso, fature mais algum com nossas caraminholas e vá velejar sossegado.
Eu ?
Eu vou velejar sossegado sem as caraminholas, ainda que não fature mais nenhum...