sábado, janeiro 29, 2005

O destino de J.M. - 1


WASHIGTON, DC

“O destino de J.M.”


por lúcia carvalho


Prólogo



Como nosso colega Charles quer saber o final da novela antes do começo, lá vai:



“Os despojos da vaca estão estendidos numa poça de sangue. João chama com um
assobio os seus dois auxiliares. Um deles traz um carrinho de mão. Os restos da
vaca são colocados no carro. Na ponte fica apenas a poça de sangue”.


1. Em Washington, DC

Joe entrou na casa e respirou fundo, colocando as valives no chão. Olhou ao redor. A sala estava impecável, exatamente como ele tinha solicitado ao mordomo. A lareira estava acesa, a sala estava na penumbra, somente iluminada com as lâmpadas dos abajures laterais, e uma suave música clássica envolvia o ambiente. Joe respirou fundo. Sentiu o delicioso aroma de cozido que vinha da cozinha. Sim, ele pensou, o cozinheiro estava preparando o cordeiro. Perfeito.
O homem voltou-se para a porta, sorriu e anunciou.
- Picky, my cookie! Está tudo certo por aqui. Pode entrar. A casa é sua.
Joe fez uma mesura, convidando a mulher que aguardava na porta a entrar. Aspicuelta, como sempre, estava elegantérrima dentro das suas peles e roupas especiais. Vestia um enorme casaco de pele dos raros macacos cara-branca que se arrastava no chão, com uma gola alta de couro de jararacuçu que subia além das suas orelhas. O cabelo cacheado estava preso num enorme coque no alto da cabeça. Nas mãos, sua marca registrada: a bolsa CF Turtle, uma pochete feita com duas cascas de tartaruga que se fechavam com um fecho de pérola. Aspicuelta ganhava fortunas com a venda daquela pequena bolsa, que se tornou um sucesso no mundo todo. Foi com a venda das bolsas que a empresária alavancou a sua grife, a Damon, e pode ultrapassar os limites do Brasil. As bolsas CF Turtle tornaram Aspicuelta e a Dasmon conhecidas internacionalmente.
- Joe, Joe, mas isso aqui está perfeito! Que maravilha, que deliciosa que está a sua casa... – sorriu a moça, olhando meiga para o dono da casa – Joe, você é sempre surpreendente.
- Eu amo você, minha Picky. Você sabe disso. E isso aqui é tudo seu.
Ela mudou de tom.
- Pare com isso, Joe. Eu já disse que...
O homem interrompeu Aspicuelta com um beijo rápido na sua boca. Afastou-se e sorriu.
- Eu sei. Não vou mais falar nada, não vou mais te dar nada, não vou mais insistir nem uma única vez. Nenhum presente, nenhuma insistência. Está bem? – Joe pegou nas mãos da mulher - Você é apenas minha hospede aqui nessa casa, Picky, e eu quero que tudo esteja perfeito para você.
O homem olhou ao redor e chamou:
- Mag! Venha aqui, Mag, venha ver quem chegou!
O mordomo silenciosamente entrou na sala. Era um homem havaiano, bronzeado de sol e sorridente, com muito gel no cabelo. Mag era o assistente, mordomo, amigo e confidente de Joe há anos. O milionário não fazia nada sem Mag, e levava o homem para todos os lugares que ia.
Mag, assim como Joe, também era deslumbrado com Aspicuelta. Admirava de longe a mulher, a eterna amante do seu patrão, e faria qualquer coisa por ela. Era uma mulher atraente, enigmática, bonita, simpática, doce, animada. Mag curvou-se diante de Aspicuelta e a ajudou a tirar o seu casaco.
- Mag, leve minha Picky ao quarto rosa. Acho que ela precisa descansar um pouco da viagem – Joe olhou para a amada – Não está cansada, querida?
A mulher abanou a cabeça.
- Não, Joe. Antes de qualquer coisa temos que conversar – ela olhou para o mordomo, pensando porque aquele homem não tirava os olhos dela – E... a sós. Pode ser?
Joe ficou subitamente sério. O que ocorria? Achou que a visita de Picky a Washington era apenas uma viagem de negócios. Ela costumava aparecer por lá pelo menos duas vezes ao ano, quando ia visitar a sua filial em NY. Mas o olhar de Picky estava estranho. Parecia que a moça estava preocupada com alguma coisa.
Ela entrou rapidamente na biblioteca. Joe entrou atrás dela, um pouco atrapalhado, dando as costas ao mordomo, que ficou parado com o enorme casaco de pele de macaco nas mãos.
- Um brandy, Joe – ela pediu, respirando fundo – Por favor.
- O que foi, minha Picky? – perguntou o homem, preocupado, dirigindo-se a ela – Você tem... algum problema?
Aspicuelta olhou fundo nos olhos dele.
- Eu, não Joe. Você tem.
- Eu? Eu o que, Picky? Fale logo!
Joe McCartney nunca tinha visto a sua Picky hesitar como ela fazia naquele momento. A mulher pigarreou e falou de uma vez.
- Joe. Tenho a impressão que você corre perigo.
___________________________________________________________________

Nenhum comentário: